O Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro é uma das mais importantes instituições da área no país. Dedicado ao ensino, assistência e pesquisa, o Instituto é também a origem de alguns dos artigos mais procurados na Surgical & Cosmetic Dermatology nos últimos anos.
Estudos de investigação como esses, focados em cirurgia dermatológica e cosmética, e em laser, por exemplo, contribuem para a futura indexação da Surgical em novas bases de dados importantes como Scielo e Pubmed, além de colaborar para manter a revista nas bases atuais – LILACS, SCOPUS, entre outras.
Em entrevista exclusiva, o chefe de Serviço do Instituto de Dermatologia Prof. David Rubem Azulay comenta sobre esse trabalho, perspectivas para a pesquisa na área e também os maiores ensinamentos deixados por seu pai, Prof. Rubem David Azulay. Leia a seguir:
1- Qual é o foco do Instituto Azulay em relação à pesquisa e temas principais?
Somos uma instituição que conjuga bem a relação assistência/ensino. Ao final do curso, muitas das 18 monografias se tornam publicações nas mais variadas revistas médicas. Nos últimos anos, o ensino se desenvolveu bastante graças às novas pós-graduações que têm um ano de duração; correspondem a um R4. São em Cirurgia Dermatológica, Cosmiatria, Laser, Tricologia e Unha. Muitas publicações, originais ou não, têm saído desses cursos também.
2 – Na sua visão, qual a importância de conciliar pesquisa e prática em clínica em dermatológica no Instituto?
É um fator a mais de aprendizado e, inclusive, com um ganho de experiência individual e coletiva que não tem preço, além de ser criado um espírito mais crítico em relação à leitura de publicações. Procuramos seguir um mantra do Prof. Rubem David Azulay: “tem que publicar”.
3 – Quais os desafios atuais no Brasil de forma geral para que dermatologistas atuem mais em pesquisa e publicações acadêmicas?
Falar sobre pesquisa em um país que dá um atendimento médico de forma tão sofrível à sua população na maioria dos municípios é falar de raros locais em que existe, de fato, pesquisa de ponta. A dermatologia está inserida nesse triste contexto nacional.
4 – Quais são as tendências e oportunidades para pesquisa nesse campo, em particular no contexto brasileiro?
Como já dito, são raríssimos esses centros de pesquisa básica ou de ponta que não tenham restrição financeira. Para ser um pesquisador tem que ter muita determinação e também estar na hora e nos locais certos para ser incorporado à uma instituição e assim poder desenvolver essa atividade profissional. Aliás, a pesquisa feita de forma maciça nos países desenvolvidos é o que faz com que fiquemos cada vez mais atrás em relação à liderança. Essa confusão que reina na política nacional com sua corrupção endêmica nos leva a um quadro bastante triste em relação à qualidade de atendimento médico, e claro que a pesquisa acaba também seriamente prejudicada.
5 – Há áreas ou temas que poderiam ser mais explorados na pesquisa em cirurgia dermatológica?
Com certeza isso já vem ocorrendo desde que a nossa Sociedade Brasileira de Dermatologia tornou a nossa especialidade em uma especialidade clínico-cirúrgica. Vários Serviços da SBD desenvolveram muito bem os seus setores de cirurgia, inclusive o nosso. A boa formação recebida nos serviços tem levado vários colegas a subespecializações como, por exemplo, a cirurgia micrográfica de Mohs. Embora cirurgia seja algo muito técnico, vemos várias publicações brasileiras originais ou com modificações de técnica em vários procedimentos cirúrgicos.
6 – Pela importância do Prof. Rubem David Azulay, gostaríamos de aproveitar esse espaço para registrar um pouco de seu legado. Quais são as suas principais memórias de seu pai e o que considera como marcas desse legado?
As memórias ou melhor seus ensinamentos são vários. Talvez o mais importante é o de aprender fazendo e esse é um dos principais fundamentos praticados no nosso Instituto. A teoria por si só acaba caindo no esquecimento rapidamente.
Histórias sobre ele que eu conheço são muitas e daria para preencher toda essa matéria facilmente. O meu pai era um homem extremamente progressista e humanista, sem contar inteligentíssimo, proativo e generoso. Seus alunos e seus pares, nos vários serviços que chefiou, reconheceram facilmente esse espírito de liderança bastante equilibrado, tanto é que em 1986 foi fundada a Associação do Ex-Alunos do Prof Azulay (AEAPA), que esse ano realizará o seu 35º congresso.
Esse congresso além de ser uma homenagem direta a essa pessoa notável, também serve para ajudar financeiramente o Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay (IDPRDA) a desenvolver as suas atividades. Aliás, o nome do instituto em sua homenagem se deu em 13 de dezembro de 2002, quando inauguramos a reforma nos cinco andares do venerável Pavilhão São Miguel do Hospital Geral da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Eu fui o “engenheiro”. Adoro também construir. Aliás, gostaria de dizer a toda a comunidade que nos lê, que o IDPRDA é ímpar no sentido que o que temos é fruto de todo um trabalho feito pelos membros do Serviço. Procuramos desenvolver um sentimento de pertencimento, de Família (outro ensinamento) entre todos. Os membros do Serviço são, em sua esmagadora maioria, ex-alunos do Prof. Azulay ou alunos dos ex-alunos, o que obviamente nos inclui. Dar responsabilidade às pessoas, perceber seus potenciais, tem sido uma das várias chaves do sucesso, o que também ele fazia. São 54 alunos na pós, os mais diversos estagiários, mais de 70 preceptores que tornam intenso o nosso dia a dia. Gostaria aqui de ressaltar também esse espírito nos 19 funcionários que lá trabalham. Manter e desenvolver uma Escola de Dermatologia brasileira tem sido uma das muitas missões. Temos alunos em vários cantos do mundo e, certamente, em todos os estados do Brasil. Nós nos autogerenciamos, não há ajuda de ninguém. Fazer o IDPRDA funcionar de forma digna é, com certeza, a maior homenagem que posso fazer ao seu legado, como filho e cidadão.
Leia artigos produzidos no Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay:
http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20191111273
http://www.dx.doi.org/10.5935/scd1984-8773.20181041260