O Dia de São Pedro, padroeiro dos pescadores, será celebrado em 29/6. Mas, na Baia de Guanabara (Rio de Janeiro), além da missa e procissão, a data contará com o lançamento da cartilha educativa “Saúde da pele do pescador” e do gibi “Histórias verdadeiras de pescador”. O AquaRio, maior aquário marinho da América do Sul, localizado na cidade do Rio de Janeiro, fará ação educativa durante a semana de 26 a 30/6, distribuindo a cartilha educativa.
As publicações orientam sobre proteção solar, câncer de pele e riscos da poluição à saúde e ao meio ambiente, além de primeiros socorros em caso de acidentes com animais marinhos, insetos, objetos perfurocortantes.
O trabalho, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, é fruto de estudo do médico dermatologista Fred Bernardes Filho que mapeou, em 2014/15, os acidentes mais comuns, além de constatar que os pescadores utilizam tratamentos caseiros perigosos, desconhecem informações básicas sobre primeiros socorros e muitos nunca usaram filtro solar.
Com o grande afluxo de banhistas às praias e incremento da pesca comercial e esportiva, além de atividades como mergulho autônomo e pesca submarina, acidentes com animais aquáticos têm aumentado. “A coleta de dados da atividade pesqueira é fundamental como subsídio para qualquer política de fomento à pesca, organização do setor e quantificação de eventuais perdas decorrentes de acidentes ambientais ou com os pescadores. O elevado índice de acidentes revela carência de treinamento e educação em saúde. A pesca é atividade perigosa e coloca os pescadores em risco de morte sete vezes a mais ao de outros setores industriais juntos”, alerta o dermatologista Fred Bernardes Filho.
Pesquisa
Foram entrevistados 388 pescadores das colônias de pesca da Baía de Guanabara (Zona-8, Z-9, Z-10, Z-11 e Z-12) das comunidades de Niterói, Rio de Janeiro, São Gonçalo, Itaboraí, Magé e Guapimirim e da colônia Z-13, da Urca até o Pontal do Recreio, com núcleos em Jacarepaguá e na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Os pescadores responderam a questões referentes às características socioeconômicas, época do ano e horário de prática da pesca, uso de protetor solar, história de lesões cutâneas e/ou envenenamentos relacionados à prática da pesca, local do corpo que ocorreu a lesão, agente causador, sintomas e tratamentos da lesão e/ou envenenamento, número de acidentes sofridos e necessidade de afastamento.
Cenário
A Baía de Guanabara é a terceira maior baía do Brasil, com 380 km2 de área superficial, 59 km2 de ilhas e 80 km2 de manguezais. A bacia hidrográfica tributária abrange área aproximada de 4.000 km2 e contribui por meio de 35 rios principais.
O Boletim do Registro Geral da Atividade Pesqueira de 2012 do Ministério da Pesca e Aquicultura estimava mais de 30 mil pescadores em atividade e uma média de 10.100 pescadores na Baía de Guanabara. Apesar do aumento da poluição e da diminuição da pesca, o número de pescadores da região aumenta a cada ano. Aproximadamente 1/3 dos entrevistados apresentavam renda per capita superior à do Rio de Janeiro em 2015, que foi de R$ 1.284, assim como média de escolaridade superior à do Brasil, que é de 7,4 anos.
Resultados da pesquisa
Os 388 entrevistados tinham entre 18 e 86 anos, com média de 46 anos, sendo 368 (94,8%) do sexo masculino e 20 (5,2%) feminino.
O uso de filtro solar foi relatado por apenas 68 pescadores, 30 (9,7%) pescadores responderam ter tido um único acidente durante a atividade pesqueira, 40 (12,9%) de dois a cinco acidentes, 10 (3,2%) de seis a dez acidentes e 229 (74,1%) mais de dez acidentes. Dentre os que já foram vítimas de acidentes durante a atividade da pesca, 77 (24,9%) relataram que já foi necessário afastamento devido a algum dos acidentes. Três (0,8%) pescadores relataram antecedente de hanseníase e 12 (3,1%) de câncer de pele. Todos disseram nunca ter recebido visita de um médico para orientação/assistência no local em que eles praticam a pesca. O estudo terminou no ano em que houve as competições aquáticas das Olimpíadas 2016 na Baía de Guanabara. Ao longo do estudo, apesar de obras de saneamento para viabilizar o evento terem aumentado o índice de tratamento de esgoto em toda a cidade, a poluição foi queixa constante durante as entrevistas.
Cartilha e gibi
A cartilha e o gibi foram produzidos pela agência Texto & Cia Comunicação, de Ribeirão Preto-SP. A agência tem 24 anos de atuação e é responsável por outras campanhas educativas como a campanha “Todos Contra a Hanseníase” da Sociedade Brasileira de Hansenologia. O gibi tem ilustrações de José Carlos Fecuri, de Ribeirão Preto, que atua há mais de 40 anos como cartunista, chargista e ilustrador em mídias impressas. Apoiam o projeto FIPERJ (Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro), www.protetoresdapele.org.br, Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP, Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional Fluminense, Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional Rio de Janeiro, Sociedade Brasileira de Dermatologia, Academia Nacional de Medicina, CILAD (Colegio Ibero-Latinoamericano de Dermatología).
Agenda
26/6 a 30/6
Distribuição da cartilha “Saúde da Pele do Pescador” no AquaRio
28/06 (quarta-feira)
09h: Reunião Mensal da Sociedade Brasileira de Dermatologia RJ – apresentação da cartilha e gibi
10h: Colônia de Pescadores Copacabana – distribuição da cartilha e gibi
13h: Escola Municipal Cuba (Praia do Zumbi 25/Ilha do Governador) – distribuição de cartilhas e gibis
29/06 (quinta-feira, Dia de São Pedro)
09h: Niterói – Missa na Capela de São Pedro (Av. Carlos Ermelindo Marins 2438/Niterói) – distribuição de cartilhas
10h: procissão terrestre e marítima
14h: AquaRio (Praça Muhammad Ali/Gamboa) – distribuição da cartilha
Números da pesquisa
Causa do ferimento | Número | % | ||
Bagre | 201 | 65 | ||
Caranguejo, siri | 165 | 53,4 | ||
Água-viva, caravela, medusa | 114 | 36,4 | ||
Ouriço do mar | 100 | 32,4 | ||
Peixe-espada | 98 | 31,7 | ||
Corais | 82 | 26,5 | ||
Arraias | 68 | 22 | ||
Anchova | 66 | 21,4 | ||
Mangangá | 56 | 18,1 | ||
Moreia | 27 | 8,7 | ||
Corvina e tainha | 16 | 5,2 | ||
Robalo | 13 | 4,2 | ||
Mexilhão | 13 | 4,2 | ||
Baiacu | 10 | 3,2 | ||
Guaibira e bicuda | 9 | 2,9 | ||
Polvo | 7 | 2,3 | ||
Camarão e peixe voador | 4 | 1,3 | ||
Solteira, pescadinha, peixe sapo e cocoroca | 3 | 1 | ||
Peixe cangulo e peixe olho-de-cão | 2 | 0,6 | ||
Xerelete, tamboril, peixe cirurgião, peruá e gaiado | 1 | 0,3 | ||
Materiais de pesca | 232 | 75,1 | ||
Objetos perfurocortantes | 122 | 39,4 | ||
Outras causas | ||||
Acidente com a embarcação | 22 | 7,1 | ||
Picada de abelha/marimbondo no mangue | 14 | 4,5 | ||
Trauma ocular com chumbada do anzol | 1 | 0,3 | ||
Mordida de rato na praia | 1 | 0,3 | ||
Tratamento |
Número | % | ||
Procurou atendimento médico | 132 | 42,7 | ||
Partes do peixe | 113 | 36,6 | ||
Gelo | 101 | 32,7 | ||
Álcool | 85 | 27,5 | ||
Urina | 65 | 21 | ||
Sal | 54 | 17,5 | ||
Calor local | 21 | 6,8 | ||
Bebida alcoólica | 19 | 6,1 | ||
Querosene | 17 | 5,5 | ||
Fumo | 10 | 3,2 | ||
Torniquete | 8 | 2,6 | ||
Erva e pó de café | 6 | 1,9 | ||
Gasolina | 4 | 1,3 | ||
Orações | 3 | 1 | ||
Própolis | 2 | 0,6 | ||
Graxa, planta saião, mel | 1 | 0,3 |